domingo, 18 de julho de 2010

A Oração da Serenidade

     No desenvolvimento do anti-catolicismo que se formou no evangelicalismo brasileiro, muitos deixaram de apreciar a riqueza e profundidade das orações escritas, por se parecerem com as “rezas” católicas, passando a apreciar somente as orações espontâneas, mesmo quando repetitivas e muito superficiais. Algumas orações públicas não podem nem contar na categoria de oração. São às vezes mais um sermão para os que estão em volta do que uma oração.

       Esquecemos, por exemplo, que muitos Salmos que lemos não são outra coisa senão orações escritas, guardadas por muitas gerações, e que continuam tendo um valor singular para a nossa espiritualidade. Pois bem, além das diversas orações que encontramos na Bíblia—que não estão lá simplesmente para serem repetidas, mas, sim, para serem oradas de novo, para se tornarem nossa própria oração quando nos identificamos com elas, e para inspirarem novas orações—há inúmeras outras orações escritas em diversos momentos da história que também têm um valor incomensurável para a nossa caminhada e para a nossa espiritualidade.

     Compartilho aqui uma oração que se tornou uma das mais apreciadas no mundo contemporâneo. Milhões de pessoas recitam ao menos parte desta oração quando participam de grupos dos Doze Passos (como o AA). Muitas outras pessoas simplesmente a utilizam no dia-a-dia, quando têm de enfrentar os problemas estressantes da vida. Esta oração é atribuída ao pastor e teólogo protestante Reinhold Niebuhr (1892-1971). As linhas iniciais da oração constituem parte de um sermão que ele pregou em 1934. Não se sabe, porém, se ele a formulou originalmente. É uma oração que inspira equilíbrio entre a aceitação da realidade e a coragem para transformá-la. Esta é uma oração que também tem inspirado a minha caminhada.


Oração da Serenidade


Concede-me, Senhor,

a serenidade necessária para aceitar as coisas

que eu não posso modificar;

coragem para modificar as que posso;

e sabedoria para distinguir uma das outras –

vivendo um dia de cada vez;

desfrutando um momento de cada vez;

aceitando as dificuldades

como um caminho para alcançar a paz;

considerando, como tu,

este pecador como ele é

e não como eu gostaria que fosse;

confiando que endireitarás todas as coisas

se eu me render à tua vontade –

para que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida

e sumamente feliz contigo na eternidade.

4 comentários:

  1. Muito bom ter iniciado esse espaço querido. Essa semana ouví essa oração no filme "Instinto secreto". Pensei que fosse algo do Sidarta...
    Continuarei acompanhando seus textos. Abs!

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  2. Obrigado, meu amigo. Essa oração é atribuida a Reinhold Niebuhr pela maioria dos pesquisadores. Alguns, no entanto, argumentam que ele a teria adaptado de outras preces existentes, sendo que nenhuma dessas teorias alternativas foi comprovada até hoje.

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  3. Sempre bebi da espiritualidade da oriunda da teologia da libertação. Essa fatia do bolo católico sempre degustei. Depois que li dois livros do presbiteriano Ricardo Barbosa(caminho do coração e Janelas para a vida) experimentei outra fatia do referido bolo, a fatia da contemplação , tão comum nos misticos católicos. Dai por diante li thomas merton , ouvi as preces e os cânticos de taizé , e digo , fui muito abençoado. Como podemos aprender com outras vertentes do cristianismo.
    Raimundo , será que , o evangelicalismo brasileiro um dia descobrirá essa verdade? Acho que quando isso acontecer estarei junto ao Pai.
    Abraços

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  4. André, meu amigo, acho que essa combinação de uma fé engajadae contemplativa nos levaria a uma vivência muito mais profunda do Reino. Acho, porém, que dificilmente o evangelicalismo brasileiro como um todo tomará esse rumo, pois teria que abrir mão da "fórmula do sucesso" do espetáculo e da superficialidade que rende poder político e riqueza a muitos de seus líderes.

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